Foi com uma provocação que a General Motors apresentou, em maio de 1973,
seu primeiro carro pequeno feito no Brasil. "A GM não faria mais um
carrinho" era o mote da campanha de lançamento do Chevette. Ele era a
quarta geração do Opel Kadett, que começou a ser fabricado na Alemanha
em meados da década de 30. A montadora apostava nas linhas atualizadas,
que embalavam um motor moderno, com comando de válvulas no cabeçote, e
uma suspensão firme, que garantia boa estabilidade. Mas como era
despojado o bichinho. Nem chave no tanque de gasolina ele tinha.
E isso em plena crise do petróleo, um tempo em que não eram raros os roubos de combustível.
Em compensação, é possível imaginar a boa surpresa de quem assumia
pela primeira vez o volante do Chevette. A posição de dirigir encantava
quem estava acostumado ao padrão dos carros nacionais da época. Ainda
hoje, o carrinho - ops! - passa a sensação de um pequeno esportivo, com
os comandos bem à mão e a direção levemente inclinada para a esquerda,
com a alavanca de câmbio bem próxima. Para os passageiros que viajam
atrás, entrar é fácil, já que o assento levanta, facilitando o acesso.
Mas que ninguém os inveje: além de dividirem o exíguo espaço com o túnel
sobre o eixo cardã, são embalados pelo som do combustível que chacoalha
no tanque, instalado atrás do encosto.
No teste feito por QUATRO RODAS (maio de 1973), sua aceleração
impressionou bem, graças à primeira marcha e ao diferencial, curtos, que
faziam o carro "pular" na frente de outros carros com motores maiores.
Fez de 0 a 100 em 19 segundos. Também as manobras foram elogiadas: a
direção, rápida, com 3,5 voltas de batente a batente, permitia virar o
carro em menos de 11 metros. As restrições ficaram para a velocidade
máxima de 140 km/h na melhor passagem e para o painel de instrumentos,
considerado confuso pelo jornalista Expedito Marazzi.
Ainda hoje, o Chevette transmite um certo "espírito esportivo". Mas
isso não significa nenhum compromisso do pequeno motor de 1400 cc e 69
cavalos de responder aos chamados do pé direito. As curvas são feitas
com precisão e a tração traseira deixa saudades. Ah, se ele tivesse um
motor mais forte...
O médico ortopedista Sérgio Minervini, 41 anos, é o dono do Chevette
76 apresentado nesta reportagem. São companheiros desde 1978.
Freqüentaram juntos o curso de medicina no interior de São Paulo e, ao
contrário do Dr. Sérgio, na ativa desde a formatura, o Chevette se
aposentou em 1989, aos 16000 quilômetros. De lá para cá, não rodou mais
do que 700 quilômetros. Sérgio é tão meticuloso que, ao receber o carro,
retirou cuidadosamente os selos dos vidros e os guarda até hoje.
Os adesivos que aparecem nas fotos são reproduções dos originais.
Produzido ao longo de vinte anos, o Chevette três volumes de duas
portas deu origem a uma versão quatro portas, ao modelo hatch, à perua
Marajó e à picape Chevy 500. Nesse tempo, foram várias versões de motor,
do 1.0 ao 1.6. No lançamento, um Chevette custava 21290 cruzeiros, bem
mais que um Fuscão, com motor 1500, que saía por 17800 cruzeiros, e um
pouco menos que os 22668 cruzeiros necessários para tirar um Corcel cupê
standart da loja. Em valores de hoje, daria para comprar um Palio ELX
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