quinta-feira, 4 de outubro de 2012

O primeiro carro pequeno da General Motors era despojado, mas tinha o essencial: dava prazer ao dirigir

Foi com uma provocação que a General Motors apresentou, em maio de 1973, seu primeiro carro pequeno feito no Brasil. "A GM não faria mais um carrinho" era o mote da campanha de lançamento do Chevette. Ele era a quarta geração do Opel Kadett, que começou a ser fabricado na Alemanha em meados da década de 30. A montadora apostava nas linhas atualizadas, que embalavam um motor moderno, com comando de válvulas no cabeçote, e uma suspensão firme, que garantia boa estabilidade. Mas como era despojado o bichinho. Nem chave no tanque de gasolina ele tinha.
E isso em plena crise do petróleo, um tempo em que não eram raros os roubos de combustível.
Em compensação, é possível imaginar a boa surpresa de quem assumia pela primeira vez o volante do Chevette. A posição de dirigir encantava quem estava acostumado ao padrão dos carros nacionais da época. Ainda hoje, o carrinho - ops! - passa a sensação de um pequeno esportivo, com os comandos bem à mão e a direção levemente inclinada para a esquerda, com a alavanca de câmbio bem próxima. Para os passageiros que viajam atrás, entrar é fácil, já que o assento levanta, facilitando o acesso. Mas que ninguém os inveje: além de dividirem o exíguo espaço com o túnel sobre o eixo cardã, são embalados pelo som do combustível que chacoalha no tanque, instalado atrás do encosto.
No teste feito por QUATRO RODAS (maio de 1973), sua aceleração impressionou bem, graças à primeira marcha e ao diferencial, curtos, que faziam o carro "pular" na frente de outros carros com motores maiores.
Fez de 0 a 100 em 19 segundos. Também as manobras foram elogiadas: a direção, rápida, com 3,5 voltas de batente a batente, permitia virar o carro em menos de 11 metros. As restrições ficaram para a velocidade máxima de 140 km/h na melhor passagem e para o painel de instrumentos, considerado confuso pelo jornalista Expedito Marazzi.
Ainda hoje, o Chevette transmite um certo "espírito esportivo". Mas isso não significa nenhum compromisso do pequeno motor de 1400 cc e 69 cavalos de responder aos chamados do pé direito. As curvas são feitas com precisão e a tração traseira deixa saudades. Ah, se ele tivesse um motor mais forte...
O médico ortopedista Sérgio Minervini, 41 anos, é o dono do Chevette 76 apresentado nesta reportagem. São companheiros desde 1978. Freqüentaram juntos o curso de medicina no interior de São Paulo e, ao contrário do Dr. Sérgio, na ativa desde a formatura, o Chevette se aposentou em 1989, aos 16000 quilômetros. De lá para cá, não rodou mais do que 700 quilômetros. Sérgio é tão meticuloso que, ao receber o carro, retirou cuidadosamente os selos dos vidros e os guarda até hoje.
Os adesivos que aparecem nas fotos são reproduções dos originais.
Produzido ao longo de vinte anos, o Chevette três volumes de duas portas deu origem a uma versão quatro portas, ao modelo hatch, à perua Marajó e à picape Chevy 500. Nesse tempo, foram várias versões de motor, do 1.0 ao 1.6. No lançamento, um Chevette custava 21290 cruzeiros, bem mais que um Fuscão, com motor 1500, que saía por 17800 cruzeiros, e um pouco menos que os 22668 cruzeiros necessários para tirar um Corcel cupê standart da loja. Em valores de hoje, daria para comprar um Palio ELX Fire 1.3 16V.